Vitória de Anitta no VMA pode abrir portas para cantoras brasileiras

A artista foi a primeira brasileira a conquistar um Video Music Awards e mostrou que as possibilidades vão muito além do que se pode pensar

“Eu realmente não esperava por isso, acho que vou chorar.” Foi assim que Anitta começou o discurso que fez durante a cerimônia do Video Music Awards 2022, na qual ela conquistou o prêmio de Melhor Clipe de Música Latina com Envolver. O hit alcançou o posto de música mais tocada do mundo no Spotify em março e mostrou que o pop brasileiro pode conquistar espaços em todos os cantos do planeta. A surpresa dela vai muito além de uma falsa modéstia e aparece no lugar de fala de uma artista que começou a carreira na periferia do Brasil e trabalhou, muito, para construir o sucesso que tem hoje. “Nasci e cresci numa favela do Brasil e, para aqueles que nasceram lá, nós nunca imaginaríamos que isso seria possível”, ressaltou a cantora na declaração de agradecimento ao troféu.

Nascida e criada em Honório Gurgel, Larissa de Macedo Machado começou a carreira de Anitta com gravações e shows na Furacão 2000. Embora não seja tão conhecida hoje, a produtora deu o primeiro espaço para nomes importantes do funk nacional e foi a primeira a gravar a mulher que levaria a música brasileira ao palco do Prudential Center, em Newark, Nova Jersey.

Isso porque não foi apenas a mistura de música urbana e pop de Envolver que ela apresentou por lá. A artista fez o que chamou de “momento brasileiro” e rebolou a bunda ao som de hits de funk que fariam qualquer amante do ritmo se mexer. “Vocês acharam que eu não ia rebolar minha bunda hoje?”, questionou a empresária em inglês antes de dançar ao som da mistura de trechos que incluiu Movimento da Sanfoninha, Bola Rebola e Vai Malandra. Antes de deixar o palco, Anitta ainda reforçou que ela sabe dar os passos certos para chegar ao topo. Para finalizar, a artista citou uma frase de um dos seus mais recentes lançamentos, a música Lobby, parceria com Missy Elliott divulgada no último dia 18: “Kiss me from the roof to the lobby”. Mas por que o papel dela é tão importante? Foi o talento, esforço, trabalho e dedicação de Anitta que mudou a percepção preconceituosa que existia, não apenas no cenário artístico, mas também social. Afinal, a cantora decidiu mostrar que o funk – ritmo por vezes renegado e excessivamente criticado – pode chegar a um dos maiores eventos musicais do mundo. A vitória dela também abre espaço para que outras artistas nacionais, que estão no auge do sucesso, queiram, e possam, se aventurar. Na lista de potenciais encontramos nomes como Pabllo Vittar e Ludmilla. No primeiro semestre do ano, Pabllo passou em turnê pelos Estados Unidos e esgotou ingressos na estreia em Los Angeles. Além disso, ela mostrou que a carreira internacional está agitada e foi também uma das atrações de um dos principais festivais de música do mundo, o Coachella.

Com poucos anos a mais de carreira, Ludmilla mudou de assinatura, amadureceu posicionamentos e arrastou públicos dentro e fora do Brasil com hits de funk. Agora a artista passa por uma nova fase e aposta na mistura de ritmos que apresenta também o pop e o pagode. As cantoras trazem mais do que sucesso na carreira, mas têm papéis importantes quando o assunto é representatividade. Enquanto Pabllo é uma drag queen, Ludmilla é uma mulher negra e bissexual. Além disso, as duas vieram de origens pobres, assim como Anitta, e conquistaram espaço com músicas inspiradas em vivências de favela.

A vencedora do VMA também aparece como peça fundamental de visibilidade para outros artistas brasileiros. Isso porque o público dela fora do país também vai consumir artistas que ela convive, gosta e, principalmente, divide canções. Anitta trouxe um novo olhar para a música produzida nas terras tupiniquins, e reforçou a ideia de que as letras que sofrem preconceito e chegaram a ser consideradas crimes podem, na verdade, ser o caminho para o sucesso.

 

Fonte: Beatriz Queiroz /Metrópoles

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