Viola Davis: “Vocês vão gastar para ver o filme de uma heroína negra?”
A atriz veio ao Brasil para promover o filme A Mulher Rei, que estreia em 22 de setembro
Viola Davis veio, pela primeira vez, ao Brasil em um esforço para promover A Mulher Rei, filme sobre as guerreiras Agojie, protagonizado pela atriz, que estreia nesta quinta-feira (22/9). O termo esforço não é exagero: na coletiva de imprensa, realizada nesta segunda (19/9), a estrela provocou o público e questionou se estariam dispostos a pagar para ver uma heroína negra.
A fala de Viola Davis, que estava ao lado do produtor Julius Tennon, veio após o questinamento se A Mulher Rei seria o indutor do surgimento de mais histórias sobre grandes mulheres negras. “Acho que essa pergunta é feita para a pessoa errada. O público deve ser questionado: vocês vão gastar para ver o filme de uma heroína negra? Assim, como foram assistir à Tomb Raider, Viúva Negra, Capitão América. Vão pagar para me ver, como pagaram para ver a Brie Larsson?”, indagou a atriz.
Nos Estados Unidos, onde o filme já estreou, A Mulher Rei conseguiu um resultado bem acima do esperado. A revista Variety informa que o longa acumulou US$ 19 milhões no primeiro fim de semana, acima dos US$ 12 milhões previsto pela Sony. A produção, que estreou no Festival de Toronto, custou cerca de US$ 60 milhões.
A Mulher Rei conta a história das guerreiras AgojieAgojie Em A Mulher Rei, Viola Davis vive Nanisca, a general do exército Agojie, força militar do Reino de Daomé, na África, no atual Benin. A trama se passa no começo do século 19, momento em que o tráfico humano ainda ocorria no continente. Além da atriz, o elenco conta com Lashana Lynch, Sheila Atim, Thuso Mbedu e John Boyega. Ao longo da coletiva, Viola Davis ressaltou a importância do filme como uma plataforma para se contar histórias de mulheres negras, que, por diversas vezes, são apagadas do cinema.
“Temos uma chance de sermos vista de uma forma que nunca fomos vistas. Quando eu falo ‘ser vistas’ é tanto nos cinemas, nos grandes filmes, quanto na nossa vida real. Nosso poder não é mostrado, nossa complexidade é apagada, Somos enxergadas apenas por meio da nossa contraparte branca. Espero, de verdade, que A Mulher Rei e as Agojie sejam capazes de fazer tantas mulheres negras verem seu valor. De que elas podem virar um blockbuster mundial”, falou Viola.
A força da mulher negra Ao longo da coletiva, Viola Davis usou o termo representatividade apenas uma vez – mesmo que a produção seja, talvez, um dos principais ícones dessa batalha em 2022. Em suas falas, a atriz defendeu que o longa é um resgate, seja para a população negra das Américas, descendentes de escravizados, seja para a própria estrela de Hollywood.
“Eu passei 10 anos estudando atuação e interpretando papéis clássicos, que sempre foram vividos por mulheres brancas, que debatiam o que era ser mulher, o que era ser bela. Mas eu não me via nisso. Eu queria viver o meu mundo, uma personagem que me mostrasse. Na tela, vocês vão me ver, vão ver o que eu mostrei. Eu me senti humanizada, o filme fala sobre a complexidade de ser uma mulher negra. É sobre a minha vida”, desabafa Viola.
“Ver uma mulher como eu, em um pôster, com o nome rei, subvertendo a narrativa tradicional, é, para mim, algo indescritivelmente poderoso”, pontuou a atriz. Parte dessa força, de acordo com Viola, vem do combate ao racismo.
“O racismo fez um trabalho em nós. Criou um sistema de castas no qual você é tratada com base no seu valor e a mulher negra está no último lugar da lista. E isso causou um terrível problema no mundo”, conclui a atriz. Para Julius, aí está a importância de A Mulher Rei. “É importante contar essa história porque ela nunca foi contado. Pode criar o mundo que todos queremos ver”, encerrou.
A Mulher Rei estreia nos cinemas do Brasil em 22 de setembro.
Fonte: Luiz Prisco/Metrópoles