Cannes será primeiro grande evento presencial do cinema após Covid-19

A 73ª edição do tradicional festival será realizada na cidade de Cannes, na França, entre os dias 6 e 17 de julho

Neste ano, a 73ª edição do Festival de Cannes acontecerá entre os dias 6 e 17 de julho, na cidade de Cannes, na França. Além do grande prêmio em questão, a Palma de Ouro, outro fato atraiu olhares de todo o mundo ao festival: o formato presencial. O período de realização do evento, que teve a edição de 2020 cancelada em virtude da ascensão da pandemia de Covid-19, coincidiu com uma fase de flexibilização das medidas de contenção do coronavírus no país europeu.

Por isso, na maré contrária das tradicionais premiações da sétima arte realizadas neste ano, como o Oscar e o Globo de Ouro, Cannes não terá realização virtual ou híbrida, e contará com a presença do público no local do festival.

“É um alento, de certa forma, para a indústria cinematográfica. Mas ainda considero precoce e não seria um formato indicado para todos os países. Seria complexo, por exemplo, apostar em um festival presencial em alguns países, como o Brasil”, pondera Ciro Inácio Marcondes, professor de comunicação e cinema da Universidade Católica de Brasília.

No intuito de que o festival aconteça de forma segura, no ponto de vista sanitário, a organização do evento impôs uma série de medidas que deverão ser adotadas pelos presentes.

Regras para entrada

Para poder acessar o festival, os convidados deverão se adequar a ao menos a uma das três exigências da organização: apresentar um relatório médico que comprove a aplicação das duas doses da vacina contra Covid a mais de 14 dias; um exame PCR negativo feito em até 48 horas ou uma prova de imunidade por meio de exame feito há menos de 15 dias.

Thierry Frémaux, organizador do evento, afirmou em entrevista ao Deadline que as exibições do festival estarão com capacidade máxima e a orientação é que seja feito o uso de máscara.

“Nesse verão, existe a possibilidade de que possamos não as usar em locais abertos. No tapete vermelho, os artistas e as equipes poderão tirar a máscara mantendo a distância recomendada dos fotógrafos. Nós veremos como vai ser aos poucos”, reconheceu Frémaux.

Os concorrentes que vierem de outras partes do mundo poderão enfrentar ainda mais protocolos para acessar o evento. A França reabrirá as fronteiras para receber estrangeiros no próximo dia 9, mas com restrições rigorosas.

Cada país está em uma zona de risco: verde, laranja ou vermelha. Estas delimitações foram definidas de acordo com o controle da pandemia em cada nação. O Brasil, por exemplo, está na zona vermelha, e, por isso turistas brasileiros poderão acessar a França somente em casos de urgência.

Na zona laranja, onde estão os americanos, por exemplo, não será necessário fazer quarentena ao chegar no país, mas é obrigatório apresentar o exame negativo PCR. Para os países da zona verde, como os europeus, será permitida a entrada desde que os visitantes estejam vacinados.

Aceno para indústria

Para Ciro Inácio Marcondes, ao passo que o festival representa um alento para a indústria cinematográfica que tanto sofreu com a incidência da pandemia, ao optar pelo formato presencial, que exige diversas limitações, o evento mantém a reputação histórica elitista.

“Me parece um pouco precoce e elitizado. Cannes sempre foi um festival para um público privilegiado, e agora, com as imposições advindas com a pandemia, acaba se tornando muito mais”, destaca o professor universitário.

O fato de o evento, considerado um dos principais para o cinema, ser presencial, se torna um conforto para um setor que foi duramente afetado pela pandemia de Covid-19, de acordo com Ciro.

“Cannes é um aceno para um futuro que as pessoas estão ansiosas que aconteça. Existe uma necessidade muito grande da sociedade de ver uma luz no fim do túnel. Considerando que a França já está testando outras atrações, como shows de rock e etc, me parece estar bem controlado, mas é um evento teste, então é cedo para dizermos se dará certo ou não”, explica o professor.

Brasil em Cannes

A presença brasileira no festival foi tímida neste ano e nenhum filme nacional está entre os indicados ao grande prêmio do festival. Entretanto, o Brasil estará presente em uma mostra paralela do evento com a exibição de O Marinheiro das Montanhas, do cearense Karim Ainouz.

“Não me surpreende vê-lo presente no festival. Ele já é um nome internacional no cinema, bem conhecido fora do Brasil. São filmes com excelente estética e que discutem bem as questões contemporâneas”, pontua Ciro.

A produtora brasileira RT Features, de Rodrigo Teixeira, é a responsável pela produção de Bergman Island, filme que rendeu a indicação da cineasta Mia Hansen-Love ao festival.

Já não era esperado que títulos brasileiros compusessem a lista principal do evento. O professor explicou que, assim como outros países, a indústria cinematográfica do Brasil sofreu muito durante a pandemia: “A produção paralisou muito e poucos filmes foram lançados”.

Por aqui, a situação que não era das melhores, em virtude da Covid-19, foi agravada pelas crises enfrentadas por importantes entidades dedicadas ao segmento, como a Agência Nacional do Cinema (Ancine) e o descaso enfrentado pela Cinemateca Brasileira, fechada há quase 15 meses.

Confira a lista completa de títulos indicados a Palma de Ouro 2021:

Annette de Leos Carax (França)

A Crônica Francesa, de Wes Anderson (Estados Unidos)

Benedetta, de Paul Verhoeven (Holanda)

A Hero, de Asghar Farhadi (Irã)

Tout s’est Bien Passe (Everything Went Well), de Francois Ozon (França)

Tre Piani (Three Floors) de Nanni Moretti (Italia)

Titane (Titan), de Julia Ducournau (França)

Red Rocket, de Sean Baker (Estados Unidos)

Petrov’s Flu, de Kirill Serebrennikov (Rússia)

Par un Demi Clair Matin, de Bruno Dumont (França)

Nitram, de Justin Kurzel (Austrália)

Memoria, de Apichatpong Weerasethakul (Tailândia)

Lingui, de Mahamat-Saleh Haroun (Chade)

Les Olympiades (Paris 13th District), de Jacques Audiard (França)

Les Intranquilles (The Restless), de Joachim Lafosse (Bélgica)

La Fracture, de Catherine Corsini (França)

The Worst Person in the World, de Joachim Trier (Noruega)

Compartment No 6, de Juho Kuosmanen (Finlândia)

Casablanca Beats, de Nabil Ayouch (França-Moroccos)

Ahed’s Knee, de Nadav Lapid (Israel)

Drive My Car, de Ryusuke Hamaguchi (Japão)

Bergman Island, de Mia Hansen-Love (França)

The Story of My Wife, de Ildiko Enyedi (Hungria)

Flag Day, de Sean Penn (Estados Unidos)

 

Fonte: Marcela Brito/Metrópoles

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