Karen Shakhnazarov lança filme “divertido” em meio a guerra na Rússia

No Submundo de Moscou está em cartaz desde 21 de março, misturando fatos históricos com um enredo a la Sherlock Holmes

Com um currículo recheado de contribuições para o cinema russo, Karen Shakhnazarov lançou essa semana no Brasil seu mais novo longa: No Submundo de Moscou. Baseado em relatos jornalísticos da Moscou do final do século XIX e no romance O Signo dos Quatro, de Arthur Conan Doyle, o longa entrou em cartaz em 21 de março, com uma história de investigação que ocorre durante a produção da peça Ralé, de Maksim Gorky.

“Eu já fiz de tudo: drama, tragédia, fiz filme de guerra… E agora eu acho que cansei, minha cabeça estava cheia de todos esses temas e eu queria fazer algo leve, divertido, mas que estivesse baseado em acontecimentos reais. Um filme que fosse divertido para mim e para o público”, explica Shakhnazarov em entrevista ao Metrópoles, por vídeoconferência. O diretor tinha planos de vir ao Brasil para atender a imprensa, mas abortou a viagem por problemas pessoais.

Autor de Tigre Branco, que narra a história de um um soldado soviético, severamente ferido após uma batalha de tanques com a Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial, Shakhnazarov não acredita que a população precise do cinema para se conscientizar de uma iminente “catástrofe mundial”, gerada por conflitos bélicos.

“Se eu tivesse forças ou ideia para um filme de guerra, eu faria. Mas hoje em dia me encontro em um sentimento próprio de querer assistir coisas leves, seja na TV ou nas telonas. Porque o mundo está vivendo uma época tão difícil e tão séria, eu não preciso de um filme para entender isso. Eu posso ler notícias, eu abro jornal, a internet e sei”, diz.

“Percebo que há a necessidade das pessoas relaxarem, ficarem felizes por pelo menos por 3 horas, viverem outras fantasias, uma história interessante. Eu descanso e quero que as pessoas descansem. Acho que não precisa colocar todo o peso de toda coisa séria no cinema”  Karen Shakhnazarov

Cultura russa para os russos

O filme é baseado em um evento histórico real: em 1902, o jovem Teatro de Arte de Moscou inicia a produção da peça Ralé, de Maksim Gorky. Os diretores, Vladimir Nemirovich-Danchenko e Konstantin Stanislavsky, pedem ao famoso escritor e jornalista Vladimir Guilyarovsky, que conhecia como a palma de sua mão o sombrio submundo de Khitrovka, em Moscou, para levar a trupe do Teatro de Arte a um passeio pela região.

No passeio, Gilyarovsky decide levar Stanislavsky pelas tavernas e cortiços locais e em seguida até a casa do comerciante Raja, um misterioso silk indiano, mas o jornalista e o diretor o encontram morto. Então, Stanislavsky e Gilyarovsky começam, por conta própria, a investigar o crime.

O roteiro, assinado por Elena Podrez, Ekaterina Kochetkova e Karen Shakhnazarov, conta uma história de aventura e investigação, baseada nos trabalhos de Vladimir Guilyarovsky e inspirada no romance clássico O Signo dos Quatro, do escritor inglês e criador de personagens de detetives, Arthur Conan Doyle. Trata-se do segundo episódio das aventuras de Sherlock Holmes, publicado em 1890 e que tornou famosos tanto o autor quanto o personagem.

“Eu queria mostrar um pouco da cultura russa não somente para o público brasileiro ou qualquer outro, mas principalmente para o próprio espectador russo, para que ele conheça um pouco dessa época, como pessoas que fizeram história para o país viveram como eram divertidos, estavam nos bares, rindo, bebendo, eram normais. Nos acostumamos a lembrar dessas pessoas históricas como estátuas. Eu queria dar vida a elas”.

Diretor geral da Mosfilm, mais antigo estúdio de cinema da Europa, desde 1998, Karen Shakhnazarov lembra que as recentes sanções sofridas pelo país na indústria — desde a invasão da Ucrânia, grandes estúdios de Hollywood pararam de lançar filmes na Rússia e a Netflix cancelou seu serviço no país — aproximaram ainda mais o país do cinema nacional. “O pessoal está vendo nossos filmes, conhecendo, gostando”, declara o cineasta.

Confira o trailer de No Submundo de Moscou

 

Fonte: Ranyelle Andrade/Metrópoles

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